Nem Sempre Zen

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Porque é que não o consigo esquecer?

 

Boa pergunta,  porquê?

 

Há muitas pessoas a viver relacionamentos e que me relatam comportamentos em que:

  • O parceiro parece estar muito envolvido, mas depois desaparece sem explicação;
  • A pessoa sente que recebe sinais mistos, alternando entre momentos de profunda conexão e períodos de total frieza;
  •  Já tentaram sair de uma dinâmica assim, seja de 2 semanas ou 20 anos, mas voltam sempre porque “quando é bom, é mesmo bom” – o sexo, a atenção… – mas depois volta tudo ao mesmo;
  • A pessoa é constantemente ghosted pelo companheiro e apesar de haver um entendimento entre ambos, há um sofrimento considerável;
  • A relação já terminou mas a ligação ainda persiste há a sempre a pergunta “porque é que não o consigo esquecer?”;
  • Se houve um término, racionalmente até sabes que não tem volta, mas o coração ainda mantém esperanças de um regresso à normalidade – apesar dos comportamentos da outra parte indicarem o contrário.

Se já viveste ou vives isto, provavelmente, estiveste ou estás envolvida num ciclo de reforço intermitente.

 

NOTA IMPORTANTE: cada caso é um caso, eu aqui estou a falar de uma maneira geral e não de uma situação em particular.

 

O que é o Reforço Intermitente?

 

O reforço intermitente acontece quando uma pessoa te dá carinho e atenção de forma imprevisível e inconstante – ora é intensa e presente, ora distante e fria.

Porque isto nos prende?

  • O cérebro associa a atenção da pessoa a uma recompensa emocional (dopamina);
  • Quando essa atenção desaparece, sentes abstinência emocional e queres recuperar aquela sensação;
  • Como a pessoa volta de vez em quando, ficas presa na ilusão de que “talvez desta vez seja diferente.”;
  • A incerteza cria um vício emocional, por isso não o consegues esquecer.
  • É por isso que largar uma relação assim pode ser mais difícil do que largar uma relação onde houve só sofrimento constante. A oscilação entre o “muito bom” e o “muito mau” cria um efeito viciante.

 

Mas a pessoa está a fazer isto de propósito?

 

Nem sempre. Depende.
Vamos ver alguns exemplos:

Se a pessoa tem um estilo de apego evitativo:

– Pode sentir a conexão contigo, mas isso assusta-a;
– Quando se aproxima demasiado, sente que pode perder o controlo;
– Em vez de comunicar, afasta-se sem explicação.

O problema com estas pessoas não é que não sentem, é que sentem demais e não sabem o que fazer com isso…

 

Se a pessoa tem traços manipulativos:

– Pode usar o reforço intermitente para manter alguém preso numa relação desigual;
– Dá-te carinho apenas quando sente que estás a afastar-te, para te manter na dinâmica;
– Quando sabe que já te tem de volta, torna-se fria e distante novamente.

 

Aqui entramos num campo que pode ser psicopatológico e “diagnosticar” pela internet não é solução, ok?

Cuidado com os rótulos. Há que ver caso a caso.
(mas foge!!)

 

 

Seja como for, o facto de não serem intencionais ao provocar a dor no parceiro, ou até de ser uma questão psicopatológica, não as desculpa do que fazem.

Muitas pessoas sabem que têm este comportamento e continuam a envolver-se com outras sem tomar nenhuma acção concreta para mudar e sem assumir responsabilidades.

Isto não faz delas más pessoas, mas sim pessoas que não têm capacidade de fazer escolhas além do medo que sentem.

Seja o que for, o resultado para alguém que está num relacionamento com uma pessoa assim é dor emocional, dúvida constante e sensação de nunca ter segurança na relação – um autêntico inferno!

 

O que a Psicologia diz

 

Quando estamos numa relação que desperta inseguranças, abandonos ou dinâmicas de validação, o nosso sistema nervoso pode activar respostas emocionais que vêm da infância ou adolescência. Isto acontece porque:

O apego é programado na infância – As primeiras relações que tivemos com figuras parentais moldam como vamos viver o amor na vida adulta. Se aprendemos que amor vem com ausência, confusão ou medo, podemos inconscientemente recriar isso.

O medo da perda activa o “modo criança” – Se crescemos a ter que “merecer” atenção, podemos entrar em padrões de procura desesperada por migalhas de afecto, como uma criança que implora por atenção dos pais.

O reforço intermitente é viciante – O “agora amo, agora ignoro” mexe com os nossos circuitos de recompensa, fazendo-nos agir como se estivéssemos à espera de aprovação, tal como fazíamos na infância quando procurávamos amor e aceitação.

Relacionamentos que espelham feridas antigas – Às vezes não estamos a amar a pessoa real, mas sim a tentar resolver uma história emocional não concluída do passado.

 

O que precisas perceber?

  • Não tens culpa e não fizeste nada de errado.
  • Não é sobre ti. A pessoa tem estes comportamentos erráticos e inconsistentes porque é a forma como ela está “wired”.
  • Muitas vezes a pessoa, apesar de poder ter sentimentos por ti, não pensa em ti e no que te está a fazer sofrer porque ela não tem essa capacidade de se colocar no lugar do outro – o medo que sente é maior que tudo o resto;
  • Não te esgotes. Nem todo o amor e espaço que possas dar podem “curar” as pessoas. Às vezes nem a terapia ajuda
  • Não podes salvar ninguém. É a própria pessoa que precisa resolver o problema e essa decisão tem de partir dela própria.

 

Como Sair Deste Padrão?

 

  • Reconhece o ciclo → Se uma relação te deixa sempre na dúvida, não é amor.
  • Percebe que isto é um vício emocional → O teu cérebro foi condicionado a esperar pequenas doses de validação.
  • Lembra-te que o amor certo é leve → Se tens que lutar constantemente para ser vista, essa pessoa não está disponível para ti.
  • Protege-te → Afasta-te. Não aceites migalhas emocionais só porque um dia já foi bom.
  • Pede ajuda → Psicoterapia, amigos, atividades que te tragam de volta a TI MESMA.

 

Conclusão

 

A melhor coisa que podes fazer por ti é trabalhar em ti mesma, fazer terapia, organizar a cabeça, fazer actividades novas, coisas fora da caixa, conviver com pessoas da tua confiança para te ajudar a restabelecer a confiança nos outros (em geral).

Se estás num ciclo de reforço intermitente, lembra-te: não és tu que és intensa ou difícil de amar.

Tu mereces alguém que não te deixe na dúvida, que te escolha com clareza e que esteja presente sem jogos emocionais.

 

Se alguém te afecta a saúde mental, pensa seriamente, o que é que ainda te prende a essa relação?

 

 

 

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