Nem Sempre Zen

Shadow Work ~ Interligando Consciente e Inconsciente

Manifestar abundância

 

Manifestar abundância enquanto a barriga ronca de fome

 

Não podes manifestar abundância e meditar todos os dias num ambiente cheio de almofadas fofinhas, rodeado/a de velas e incensos cheirosos se a tua barriga ronca de fome ou se estás preocupado/a com as contas que tens de pagar.

Não tens capacidade de estar sempre em paz e ter controlo sobre tudo se vives um ambiente de cortar à faca no teu trabalho.

Se tens de estar de olho nos bullies dos colegas dos teus filhos.

Se sofres por um familiar doente no hospital.

 

Manifestar abundância não depende só do pensar. Que se lixe esta moda da co-criação!

 

 

 

 

Problemas existem e nós temos ferramentas para os ultrapassar mas nem sempre estamos num mood que nos permite fazê-lo.

 

 

 

O mundo delicodoce das redes sociais

 

O mundo delicodoce das redes sociais pode ser muito cruel para com quem sofre, por isso é preciso termos os pés bem assentes na terra e muita consciência da realidade em que nos movemos.

Há  personagens naquele mundo virtual que aparecem de cabelo arranjado, unhas cuidadas, pele tratada, sorriso branco.

Quanto tempo e dinheiro aquela pessoa investiu na sua aparência?

Claro que para se pregar o “manifestar abundância” tem de se parecer bem, há que dar o exemplo.

Marketing puro.

 

Mas quantas mulheres (e homens) têm realmente tempo e dinheiro para fazer o mesmo?

 

 

A vida real vs a vida fantasiosa das gurus de instagram

 

Eles vão dizer-te que compraram um carro novo porque co-criaram essa aquisição.

Vão fazer publicidade à cadeia de dentistas que frequentam, ao ginásio e à nutricionista.

Sugerir-te aquela cabeleireira fantástica e a agência de viagens que usam para ir a Bali, ao Cairo ou a Tulum aos retiros espirituais.

Aliciar-te a acordar às 5 da manhã para fazer ginástica, preparar a marmita saudável, largar o trabalho das 9 às 5 para seres terapeuta holística.

Ou convencer-te a beber água com limão todas as manhãs, a meditar de uma determinada forma, a fazer aquele curso que só vai abrir vagas 1 vez no ano.

 

Depois, quando não consegues, eles dizem que é falta de esforço, de fé, de pensamento positivo.

 

 

 

 

Eu sei o quanto é frustrante e o quão desajustados nos podemos sentir quando não conseguimos fazer o mesmo que os gurus e mestres do desenvolvimento pessoal da moda dizem que fazem.

Enquanto para eles parece tudo fácil, tu tens de arregaçar as mangas todos os dias para ir trabalhar, apanhar transportes públicos, quando não há greves, andar com as raízes do cabelo por pintar por falta de tempo – E atenção, nada disto é sinónimo que estás desligado/a da tua espiritualidade ou do teu eu.

Esta é a vida real.

 

E é a vida deles também, mas isso não é mostrado porque não é bonito, cheira a suor e às vezes a hipocrisia.

 

 

A “geração delivery” também se aplica às curas e ao desenvolvimento pessoal

 

A propósito de um inquérito realizado a estudantes em meio universitário, a  Maria de Fátima Gonçalves, lançou a expressão “geração delivery” (recomendo a leitura do artigo!) e diz o seguinte:

 

Temo, contudo, que os atuais estudantes do ensino superior estejam a transformar-se numa geração ‘delivery’ que procura o resultado já pronto, entregue em mãos e sem esforço.

É sintomático observar como pululam nas redes sociais os gurus das fórmulas mágicas para alcançar o sucesso, mais ou menos alicerçadas numa qualquer filosofia ou espiritualidade da moda, mas sempre sem sacrifício ou necessidade de renúncias.

 

 

Digo sempre que não se desfazem hábitos, comportamentos e formas de pensar de 40 anos em 2 dias de retiro ou detox emocional.

A espiritualidade, o crescimento interior, a cura, o autoconhecimento não são coisas que se obtém estalando os dedos ou carregando no botão de “entregar agora” de uma app qualquer.

Por favor, deixa de ver como um exemplo a seguir todos aqueles que te esfregam na cara o seu sucesso sem o mínimo de compaixão por quem não está na mesma situação e ainda te fazem sentir culpado/a.

 

Foca-te nas coisas que tu consegues resolver a curto prazo, uma a uma.

Tira tempo para te organizares, as tuas contas, a tua casa, as tuas relações.

E pede ajuda se te sentires assoberbado/a e só.

 

 

* Texto baseado num post publicado originalmente na minha página de Instagram, em dezembro de 2022

 

 

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