Nem Sempre Zen

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Mitologia e Amor – Um Pequeno Mergulho nos Arquétipos

Sempre que falamos de amor, entramos numa dança entre a fantasia e a realidade.

Há quem o veja como um laço inquebrável, maior que tudo, incondicional e eterno. Outros olham para ele como uma troca – algo que se dá e se recebe, algo que só sobrevive quando há equilíbrio.

Bom, e se a nossa melhor hipótese estiver algures no meio?

 

Mitologia e Amor – Um Pequeno Mergulho nos Arquétipos

 

Nem vou falar de mitologia nórdica, porque aquilo era um regabofe descomunal mas, olhando para a mitologia grega – que não é assim tanto melhor, mas dá exemplos mais simples, vá   – podemos ver que os deuses nunca amavam de forma “incondicional”.

O amor era sempre acompanhado de desejo, sacrifício, reciprocidade, ou mesmo de um destino trágico

Exemplos:

 

Poseidon e Medusa – Uma história de amor? Nem por isso. Mas um exemplo brutal de como o amor pode ser distorcido quando é imposto sem consentimento.

Orfeu e Eurídice – Um amor tão intenso que desafia as leis da morte, mas que falha no teste da confiança.

Eros e Psique – O amor entre um deus e uma mortal, onde a confiança e a entrega são constantemente desafiadas.

Nenhuma dessas histórias reflecte um amor “incondicional” no sentido simplista da palavra. Todas mostram que o amor envolve desejo, desafios, compromisso e… escolhas.

 

 

 

 

O Amor Incondicional Existe?

 

Se formos para o lado mais espiritual, sim, o amor incondicional pode existir como um estado de ser – um amor universal, um amor pelo todo, um amor divino – divino não necessariamente religioso mas como algo que não quer posse, que vai além da satisfação egóica e carnal.

Mas no contexto humano, entre duas pessoas? Hummm…

Tenho as minhas dúvidas…

 

Mas vamos ver:

 

Amor não é um contrato de sofrimento – Imagina que sentes um amor imenso por alguém, mas não és correspondido/a. Vais ficar o resto da vida a achar que amor é dor, sacrifício e auto punição?

Amor não é uma prova de resistência – Imagina que há obstáculos no vosso caminho e que subsiste a ideia de que “se é amor, vou lutar até ao fim”. Mas e se essa luta for, na verdade, teimosia? Idealização? Medo de largar algo que já não faz sentido?

Amor não é um privilégio concedido a quem “merece” – Imagina que te apaixonas por alguém que comete um erro. Essa pessoa não merece mais amor?

 

Uma coisa é certa:

 

Se alguém te magoa repetidamente, não é amor.
Se exige que te apagues para ser aceite, não é amor.
Se precisas de implorar por migalhas, não é amor.

O amor verdadeiro não pede que te faças pequeno/a para caber dentro dele.

 

O Que Resta? A Reciprocidade.

 

No final, o amor incondicional pode existir num sentido espiritual, como um estado de entrega ao todo.

Mas entre nós, meros humanos, o que realmente nos nutre não é um amor que se dá sem limites, mas um amor que se encontra, se escolhe e se constrói.

 

E é aqui que entra a reciprocidade.

 

O amor que vale a pena flui. Não porque um dá mais do que recebe, mas porque os dois querem estar ali.

O amor que vale a pena é um privilégio mútuo – ver o outro crescer, ser visto, ser aceite.

O amor que vale a pena não é um jogo de créditos emocionais. Não exige perfeição, mas também não sobrevive na ausência, no desrespeito ou na desconfiança.

O amor verdadeiro não é um fardo.
É um lugar para descansar.

 

AMOR Saudável = AMOR Real

 

O amor saudável não precisa de ser perfeito, mas precisa de ser real.
E real significa cumplicidade, respeito, partilha e reciprocidade.

Então, em vez de procurarmos o amor incondicional nos relacionamentos a dois, talvez devêssemos focar-nos no amor intencional – aquele que se constrói, que se cuida e que cresce porque ambos desejam e têm prazer em que ele exista

 

 

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