Feliz Passagem 🌿
16 de Abril, 2025
A Passagem
Quando se fala da Páscoa, ou Pessach, recordo sempre a história de Moisés e a abertura do Mar Vermelho, que permitiu a passagem dos escravos hebreus do Egipto para a tão ansiada liberdade.
Depois da escravidão, o caminho abriu-se, e o povo passou.
Mas, depois disso, seguiram-se 40 anos na tormenta do deserto.
Até parece que deus estava a gozar com eles.
Mas esta é uma realidade replicada vezes sem conta na nossa vida.
Não há um caminho direito, nem sem tropeções.
A gente chega onde tem de chegar, mas a estrada quase nunca é em linha recta.
A Travessia do Deserto
Esta semana escrevi a uma cliente sobre a necessidade de ir ao seu deserto interior, recordando a história da La Loba (que podes ler no livro Mulheres que correm com os Lobos), que vai recolhendo os ossos e cantando-os de volta à vida.
É esta travessia do Deserto que nós fazemos na vida, de vez em quando…
A mesma que Moisés fez durante 40 anos.
A mesma que Jesus Cristo fez durante 40 dias.
É tentação, é rasgo de alma, é dor visceral, são muitos “porquês” e “e se” mas também é purificação, peneira e consagração.
The White Lotus
Entretanto, estou mergulhada na 3ª temporada do The White Lotus – tudo é maravilhoso nessa série, mas a fotografia é realmente poesia visual.
Sei que não é o cup of tea de toda a gente, mas contém dos retratos mais reais e inteligentes do cinismo e das máscaras do ser humano que já vi – Shadow Work em forma de série de televisão
E o que é que isto tem a ver com as tentações de Cristo e a travessia do nosso Deserto pessoal?
Transformação. Libertação.
Tal como vamos observando pequenas subtilezas nos personagens, que vão mudando no decurso da história, revelando a sua verdadeira essência, assim somos nós.
Quantas vezes vivemos no embalo de uma vida aparentemente sóbria, correcta, cheia de propósito, para um dia darmos um trambolhão e perceber que enquanto não formos ao fundo, meter a cara na lama, não há coerência, não há paz.
A transformação – a ressurreição e transmutação da carne para o espírito – só se dá com uma morte simbólica de quem um dia fomos.

Que caia o olhar cínico sobre a nossa virtude.
Que caia a percepção de que somos uns ninjas do autoconhecimento.
Que caia a ilusão de que temos tudo controlado. Incluindo a nossa própria narrativa.
Permite-te largar esse controlo e redefinir a tua história pessoal.
Sem isso não há libertação
Feliz Pessach.
Feliz Passagem.

Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros. * Sou Mestre em Psicologia Clínica e trabalho em part-time como Terapeuta de Shadow Work e Desenvolvimento Pessoal. * O meu trabalho full time é desenvolvido na área de Consultoria Fiscal de PME’s. * As minhas áreas de interesse preferidas são Psicologia Analítica, Mitologia, Filosofia, Psicologia da Religião e Parapsicologia.