Nem Sempre Zen

Shadow Work ~ Interligando Consciente e Inconsciente

A espiritualidade não se compra, vive-se

 

Vejo muitas vezes nas redes sociais a espiritualidade a ser apregoada como se fosse um medicamento ou um objectivo a alcançar quase que obrigatoriamente como condição para se ter uma boa vida.

A indústria do bem estar, os influencers espirituais das redes sociais e as terapias saídas da algibeira quântica transformam algo que é pessoal, intenso e sensível numa coisa propagandável, que se vende como gelados no Verão.

“Eu curei-me com XPTO, a fazer o pino, com chá de baba de caracol e tu também podes! Vem à minha terapia, compra o meu curso e eu ensino-te como!”

Eu acho que há aqui uma tremenda confusão…

É certo que é importante e benéfico para o ser humano viver uma dimensão espiritual, mas será que ser espiritual é garantia de cura? de prosperidade? de felicidade?

 

 

 

 

 

Ser espiritual não te torna imune aos problemas

 

Algumas terapias e terapeutas destas “novas” correntes místicas instagrâmicas, vivem de explorar as vulnerabilidades das pessoas ao vender curas de coisas que não são nem doenças nem problemas mas sim obstáculos normais do dia a dia de pessoas que vivem neste mundo e têm de lidar com todas as suas adversidades.

 

A indústria da autoajuda e do bem estar (wellness) trata-nos como se fôssemos seres estragados a precisar de reparação física e emocional e usa abusivamente a espiritualidade como se fosse a solução para todos os problemas.

No entanto, ser espiritual não te torna imune aos problemas da vida nem é garantia de que tenhas uma existência fantástica e livre da “opressão da matrix”

Ter fé, praticar uma religião ou ser espiritual pode dar-nos outra perspectiva para enfrentar as dificuldades e isso é positivo.

Mas não é condição para se ter uma boa vida.

 

O que garante uma boa vida?

 

Eu penso que nada te garante uma boa vida

Ter saúde ou sentido de humor ou uma família bem estruturada pode ajudar, mas ainda assim há tantos factores externos, aleatórios e eventos desestabilizadores, que não há garantias ou certezas de nada!

E é esse precisamente o medo das pessoas e que é tão bem explorados por estes terapeutas pipoca: O medo da incerteza, a insegurança, a falta de sentido para a vida e para a existência.

 

Mas, sendo assim, o que dizer de um ateu, de uma pessoa racional, céptica ou até de um nihilista? Será que não têm direito a viver uma boa vida e a ter uma existência plena e satisfatória só porque não crê nas mesmas coisas que os outros?

Curiosidade: Sabias que um ateu também pode ser espiritual?

 

 

Ser espiritual não tem nada que ver com alcançar objectivos ou viver um propósito

 

Viver a espiritualidade é pessoal. Não ser espiritual também.

Espiritualidade é uma vivência interior, de paz, consciência, de amor, de bem estar e sentido de união connosco e com o mundo.

Precisamos deixar de associar o significado da nossa vida a “encontrar o propósito”, ter trabalhos como “terapeuta holístico” ou “viver alinhado à essência” – tudo isto só serve para nos encaminhar para um modo materialista de olhar a vida e que vai precisamente na direcção contrária daquilo que se pretende com a espiritualidade.

 

 

A espiritualidade não se compra, vive-se

 

A pessoa que vende a tal ideia de que:

“Eu curei-me com XPTO, a fazer o pino, com chá de baba de caracol e tu também podes! Vem à minha terapia, compra o meu curso e eu ensino-te como!” …

… usa a sua experiência pessoal com uma qualquer terapia ou religião para ganhar a vida.

A velha história do “resultou comigo, resulta contigo!”

O problema é que o que funciona para uma pessoa, pode não funcionar com outra. Todos temos experiências diversas na vida. Todos temos histórias familiares distintas, genética, ambiente social e cultural envolvente que nos faz diferentes uns dos outros.

Não faz sentido querer vender a mesma fórmula a milhares de pessoas, é simplesmente desonesto.

(vale para tantas outras coisas!)

 

Acredita em ti

 

Não tenhas medo da incerteza do futuro, não cries expectativas nas experiências dos outros, não sigas a carneirada à procura de respostas.

Acredita em ti e na tua experiência e sabedoria.

Aprende a distinguir as coisas e segue o teu próprio caminho.

Lembra-te que ser espiritual é uma vivência pessoal e que não ser espiritual também o é e que nenhuma destas opções per se te garante que vá tudo correr bem e que não vais encontrar oposição na tua jornada pessoal.

Entretanto lembra-te também que a vida é um constante fluir, cheia de altos e baixos, como as batidas do nosso coração. E que enquanto ele bater, apesar das tormentas, há sempre esperança, independente daquilo em que crês, ou não.

 

 

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