Nem Sempre Zen

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A projecção nos relacionamentos

Imagina… Conhecemos alguém e começamos a vê-lo com aqueles olhos de “Wow, quem és tu?!”
É como olhar para o céu e ver um pássaro a voar, pleno na sua liberdade. Fascinados, seguimos o seu voo, embalados pela beleza daquela aparente leveza.

Mas​, como na música Paper Bag da Fiona Apple, aquilo que julgávamos ser um pássaro é, afinal, apenas um saco de papel… vazio… arrastado pelo vento.

Conheço histórias assim….
Algumas que deixa​ram marcas profundas, outras autênticas lições de vida.

 

 

Às vezes são pessoas que surgem nas nossas vidas com uma aura de intelectualidade e mistério, com pequenos gestos encantadores que nos enleiam e mantêm atentos, mas que, na realidade, estão perdidas dentro de si mesmas.

Autênticos encantadores de serpentes, lançando truques baratos de sedução para mascarar uma imensa falta de estrutura interna.

E nós, fascinados, seguimos atrás, ludibriados pelas nossas próprias carências e projecções.

Sim, aqui a questão não é o comportamento do outro, mas aquilo que nós projectamos.

 

A Projecção nos Relacionamentos

 

O que são projecções?

 

Na definição do John Sanford, projecção é uma mecanismo psíquico que ocorre sempre que um aspecto vital da nossa personalidade, do qual somos inconscientes, é activado.

Quando projectamos algo fora de nós é como se certas características (nossas) pertencessem ao outro – isto é automático e, repito, inconsciente.

 

​Por exemplo:

Quando acreditamos que o outro é o nosso salvador, o nosso lar, conforto e segurança, quando na verdade estamos a projectar nele a nossa própria necessidade de nos sentirmos inteiros.

 

Podiam ser beijos, mas são murros no estômago

 

Um dia, inevitavelmente, a projecção desfaz-se.

E ficamos a pensar…

“Podiam ser beijos, mas são murros no estômago. Foi tão forte. Foi tão bonito…. que c****** aconteceu??”

 

O James Hollis explica isto de forma magistral no The Eden Project:

 

“Podemos amar os nossos amigos, mas o amor íntimo carrega uma carga psíquica muito mais elevada. A intimidade inclui frequentemente a fascinação pelo Outro, o desejo de exclusividade e, claro, o desejo sexual. Cada uma destas características sugere que as relações de amor íntimo estão carregadas de investimento psíquico. Fascinação vem do latim fascinare, que significa ‘encantar’ — não no sentido de boas maneiras, mas no de possuir, de usurpar a consciência.

Estar fascinado pelo Outro é ser possuído por uma ideia afectiva. No estágio mais febril de estar apaixonado, somos incapazes de fazer outra coisa senão obcecar com o Outro. As fronteiras entre o Eu e o Outro dissolvem-se, como nos primórdios da infância, na busca inconsciente pelo paraíso perdido da união com o cuidador primário.”

 

Quando nos fascinamos, regressamos a esse estado de fusão primária, onde a nossa alma anseia por reencontrar a segurança do colo primordial, do amor incondicional que, em tempos, sentiu.

Só que… projectamos tudo isso num ser humano comum.

Frágil.

Incompleto.

Como nós.

 

E quando a ilusão se desfaz, sobra-nos o mais difícil: voltar para nós mesmos.

Fazer o luto daquilo que projectámos, daquilo que desejávamos que tivesse sido e nunca foi.

 

Há que devolver essa projecção ao inconsciente e tomar como nossas quaisquer lições que possamos tirar da experiência.

E esta é uma fase pela qual precisamos mesmo passar para podermos, finalmente, amar — de olhos abertos, sem ilusões.

​E sim, custa.

Custa ver o Paraíso desmoronar.

Mas cada vez que sobrevivemos à catástrofe, renascemos um bocadinho mais livres, um bocadinho… mais nós.

 

 

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