Sombra, Caos e Arte
18 de Maio, 2025
Hoje gostava de falar contigo sobre sombra, caos e arte.
Sobre formas de exorcizar aquilo a que chamo, meio na brincadeira, de Apocalipse Cósmico Interno – o nosso Inferno interior.
Sobre transmutar a dor em algo fértil.
Sombra, Caos e Arte
Diz-se que Carl Jung terá usado a expressão “the gold is in the dark” – o ouro está na escuridão - para falar sobre os nossos dons e talentos reprimidos . Aqueles que, por alguma razão, ficaram na sombra, perdidos nas profundezas da nossa psique, sem espaço para se revelarem de forma prática na nossa vida.
É por isso que se diz que na sombra nem sempre tudo é mau ou negativo.
E mesmo que existam emoções caóticas e pensamentos obscuros, é possível transformar tudo isto em algo luminoso e criativo.
Essa descida, porém, não é gratuita.
É uma alquimia da alma que exige profundidade, trabalho interior, humildade e força de vontade.
O objectivo? A totalidade psíquica.
A tão falada individuação - o tornar-se aquilo que já se é, mas ainda não se teve coragem de encarnar.
Sombra – Transformar o Caos em Arte
Há cerca de quatro anos, assisti a um workshop com o Phil Bozeman, vocalista da banda de metal Whitechapel – que tinha começado a ouvir há pouco tempo.
Este homem, de voz possante em palco e presença quase silenciosa fora dele, tem uma história de vida marcada pela perda prematura dos pais (a mãe morreu em circunstâncias traumáticas – tema recorrente nas letras da banda).
Para conseguir enfrentar a dor, ele encontrou uma forma profundamente particular de exorcizar os seus demónios: através da escrita de letras, que depois vocaliza como se estivesse a sangrar por dentro.
Nesse workshop, explicou que, para conseguir trazer ao de cima todo o lirismo, precisa conscientemente de se recolher no seu inferno pessoal. Fá-lo de forma deliberada, quase como um ritual que oscila entre o masoquismo e a curiosidade.
Desce à dor, caminha por entre os seus monstros, mergulha na sombra e volta à tona com palavras que rompem a carne e a alma.
Shadow Work, trabalhar a sombra, não é sobre velas e incenso, choros catárticos e journaling bonito – é sobre a força bruta da alma a rasgar-se para depois se refazer.
E o que que o Phil Bozeman faz é Shadow Work puro.
A Arte como veículo da anima
Isto faz todo o sentido se olharmos com os olhos da Psicologia Analítica.
A anima – essa entidade simbólica, sensível – fala por imagens, símbolos, música, gestos.
É, por isso, um dos canais naturais por onde a anima se manifesta – porque é fluida, sensual e emocional.
Desafio-te.
Hoje quero desafiar-te a encontrares a tua própria forma de exorcizar o caos.
Dá corpo ao que grita em silêncio.
O acto de criar pode ser um portal. Um feitiço. Um orgasmo psíquico.
Uma forma de libertar o que está preso dentro de ti.
Por isso…
Pega nessa raiva mal digerida, nesse vazio que te rói o peito, nessa saudade que ninguém compreende e dá-lhe forma.
Escreve. Desenha. Pinta. Canta. Dança. Cozinha.
Não tem de ser arte clássica, nem Instagramável, nem moral ou esteticamente aceitável.
Pode ser grotesco, desajeitado ou visceral – desde que te ajude a transformar a energia caótica em algo que te pertença e na qual te reconheças.

Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros. * Sou Mestre em Psicologia Clínica e trabalho em part-time como Terapeuta de Shadow Work e Desenvolvimento Pessoal. * O meu trabalho full time é desenvolvido na área de Consultoria Fiscal de PME’s. * As minhas áreas de interesse preferidas são Psicologia Analítica, Mitologia, Filosofia, Psicologia da Religião e Parapsicologia.