Positividade tóxica: o culto do “vai ficar tudo bem”
10 de Julho, 2025
Não é novidade por aqui, mas nunca é demais repetir: há uma diferença abismal entre cultivar positividade… e viver anestesiado pela ilusão do “só boas vibrações”.
Positividade tóxica: o culto do “vai ficar tudo bem”
E eu devia saber – fiz uma dissertação de mestrado com base na Psicologia Positiva.
Spoiler: em lado nenhum diz que tens de andar sempre feliz, motivado, cheio de energia e de glitter emocional.
É natural querermos sentir-nos bem e encontrar uma saída rápida para o desconforto. Mas quando a resposta automática ao sofrimento é “Pensa positivo” ou “Tudo acontece por uma razão”, alguma coisa se perde.
Na minha opinião, isto revela mais sobre a incapacidade do outro de lidar com a tua dor (ou com a dele) do que sobre ti.
Sim, esta positividade aparente pode vir com boas intenções.
Mas não deixa de ser um bypass emocional.
Ignora a profundidade do que estás a viver.
E pior: pode fazer-te sentir errado por não conseguires “vibrar alto” enquanto o chão te foge por baixo dos pés.
Traumas, ansiedade, luto ou dor emocional não se resolvem com afirmações no espelho e mantras descontextualizados.
É preciso entrar. Sentir. Honrar. Integrar.
E isso dá trabalho. Mexe contigo. Dá medo. Mas é aí que a alquimia começa.
Crescemos a ouvir que “o tempo cura tudo”.
Não cura. O tempo só passa.
Quem cura és tu, quando escolhes não fugir mais de ti.
A positividade tem o seu lugar, sim. Mas não serve para tapar buracos com purpurinas.
Serve para te dar fôlego depois de teres atravessado o túnel.
Por isso, lembra-te disto:
Não tens de estar feliz para seres digno de amor.
Dá-te permissão para sentir tudo – o bonito, o feio, o ambíguo.
A tua sombra também merece colo.
Porque é quando começas a olhar para tudo o que és, sem filtros, que o verdadeiro processo de transformação começa.
Um passo de cada vez.
Com presença, com coragem e com verdade.

Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros. * Sou Mestre em Psicologia Clínica e trabalho em part-time como Terapeuta de Shadow Work e Desenvolvimento Pessoal. * O meu trabalho full time é desenvolvido na área de Consultoria Fiscal de PME’s. * As minhas áreas de interesse preferidas são Psicologia Analítica, Mitologia, Filosofia, Psicologia da Religião e Parapsicologia.