Nem Sempre Zen

Shadow Work * Aconselhamento e Psicoterapia

Fronteiras

Fronteiras

 

Uma destas noites sonhei com as fronteiras entre países. Numa das minhas aventuras épicas nocturnas, uma das “cenas” passava-se numa estação de comboios, presumo que um deles transpusesse alguma fronteira porque eu andava fugida e ali havia uma possibilidade de escapar.

Fronteira significa que há uma “barreira natural, geométrica ou arbitrária que protege os estados e garante a sua autonomia e soberania”. Digamos que cada um de nós também é uma espécie de Estado autónomo e soberano que vive numa União de outros Estados autónomos e soberanos (as outras pessoas) que se rege pela independência mas mantém relações diplomáticas cordiais.

Às vezes invadimos o espaço dos outros, outras vezes somos invadidos. Eventualmente há alturas em que atacamos e somos atacados por termos formas diferentes de governar a nossa casa mas na realidade dependemos todos uns dos outros, da cooperação, da partilha e do respeito, para sobreviver, em paz.

 

O mundo ideal….

 


Num mundo ideal, as posições poderiam diferir mas iam respeitar-se ideais e acções, desde que não fossem prejudiciais para os demais e cumprir-se-ia uma espécie de “se não te juntas a eles, deixa-te estar sossegadito, fica na tua e não chateies”. Mas este mundo, que podia ser bom e justo, não passa de uma fogueira de vaidades, de uma passarelle de ignorância e mediocridade e um poço de ambição e ganância.

Nunca me senti parte deste mundo e agora muito menos. Quando tinha 15 anos pensei que, até ser adulta, as coisas haveriam de mudar: a solidariedade seria mais expressiva, a aceitação da diferença seria algo banal e teríamos uma sociedade mais justa socialmente.
Mas constato que, 30 anos depois, há muita coisa pela qual lutei quando fui jovem, que continua na mesma. E quando digo lutei foi na rua, em manifs, nos bairros sociais entretanto extintos, junto dos pobres e negligenciados, não numa rede social virtual.

 

À distância de um clique


Dizem que a guerra agora se faz à distância, por satélite. Com telemóveis e detonamentos à distância matam-se milhares de seres humanos sem lhes ver a cara ou ouvir os gritos de horror.
A paz, hoje em dia, também se faz à distância, por trás de um ecrã, com frases feitas, cheias de shalala pseudozen oriental e conteúdo emborrachado de tanto que já foi cuspido e mastigado. Poucos metem a mão na massa, é tudo virtual e ilusório, até a virtude. É por isso que a paz é frágil e podre.

Este discurso começou porque uma destas noites sonhei com as fronteiras entre países e pensei na convergência de valores, no respeito pela soberania do outro sem desmerecer as suas opções, no quanto nunca me senti parte deste mundo e agora muito menos. Olho para alguns jovens adultos e parecem-me todos iguais à minha vizinha adolescente na sua irrequieta, ignorante e histérica natureza juvenil anarquista e despreocupada.

Dependemos todos uns dos outros para sobreviver mas honestamente não me parece que esteja em boas mãos, porque o outro até pode não gostar do meu vinho e optar por beber antes o dele, é na boa. Só que enquanto ele escolher não fazer o seu próprio vinho e entreter-se a cuspir no meu, não tenho fé na humanidade.


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