Trabalho e espiritualidade
26 de Abril, 2021
Trabalho e espiritualidade são temas complexos, especialmente quando mencionados em conjunto pois há receio de incompatibilidades.
Ter um emprego/vida no “mundo real” não é um handicap, como às vezes nos fazem crer com a conversa do “empreendedorismo espiritual do propósito”.
Pelo contrário, dá-nos jogo de cintura, dá-nos resiliência e, sem dúvida alguma, uma forma de ver e manejar as adversidades que de outra forma, numa bolhinha santa, não conseguiríamos.
Nem todos podemos ser reikianos ou tarólogos ou fazedores de mezinhas e orações a tempo inteiro. O que precisamos é aprender a conjugar e a integrar esses “2 mundos”.
Trabalho e espiritualidade: a prática espiritual, o trabalho não espiritual e a dificuldade em conjugar os 2 mundos
Desde que retomei as minhas práticas espirituais, depois de anos de absoluta falta de fé e descrença, que me sinto compelida a (voltar) a viver de uma forma diferente. Tal como outras pessoas na minha situação, começamos por mudar internamente e depois o lado externo começa a pedir evolução e mudança.
Multiplicam-se as conversas sobre viver de acordo com o propósito de vida – o que acabámos de (re)encontrar, mais voltado para a espiritualidade. E começamos a não nos sentir bem no nosso local de trabalho, na nossa roda de amigos, etc…
Não sejamos enganados – ou não nos deixemos enganar! – cedo ou tarde, depois do encanto inicial, vamos voltar a repensar muita coisa na vida. É como quando começamos a namorar e a pessoa (parece) perfeita enche-nos de mimos, veste-se bem, aparece cheiroso e anos depois… bom, não preciso dizer mais nada não é? ahahah
Eu estudei psicologia mas a vida empurrou-me para trabalhar com administração, gestão e consultoria fiscal. É o que faço há 25 anos.
Aprendi imenso, quer numa área quer noutra – e estes conhecimentos aplico-os nas terapias, que são o meu side job: o shadow work, onde aplico o que aprendi como psicóloga, e a leitura de runas, um trabalho mais intuitivo e espiritual (mas de muito estudo também, claro).
Portanto, eu sei o que é ter um insight ou viver um processo delicado e não ter tempo de ficar a pensar nele
O que é estar num momento dark e não poder sentar e conversar com os meus demónios. O que é querer ler e pensar em coisas zen e ter de fazer reuniões com clientes exigentes e às vezes desagradáveis, cumprir ordens do boss (para ontem) e focar-me em cenas nada espirituais.
Mas… como disse no inicio, ao contrário do que leio e ouço muito por aí, esta vida, que eu chamo dupla, é uma forma perfeita de manejar a nossa personalidade, de viver as “personas adaptativas” e aprender a arrumar a cabeça e os problemas em gavetinhas.
Uma oportunidade para enraizar e ver o mundo de várias perspectivas (ou tal como ele é)
Em todo o trabalho espiritual, o shadow work por exemplo, é preciso “enraizamento” ou “grounding”.
Quem como eu não trabalha apenas com as terapias holísticas e práticas espirituais mas tem um outro trabalho mais clássico, digamos assim, tem a possibilidade de “enraizar” e separar as águas.
Trabalho e espiritualidade não são incompatíveis, podem (e devem) conjugar-se, pois são ambas facetas da nossa vida e nós próprios.
Neste momento, enquanto escrevo, estou no computador de trabalho.
Antes de me sentar aqui tinha a cabeça cheia de “coisas” mas fui obrigada a vestir uma farda psicológica, que separa a Patrícia shadow worker da Patrícia gestora.
Custa? Sim, muito. Muitas vezes é difícil focar-me.
Mas é uma óptima maneira de “deixar o caldo em lume brando” para depois, já com outra perspectiva, fazer um belo dum “guisado” do problema que me aflige.
A nossa experiência vale muito
Amigos, não vamos desprezar o que aprendemos a vida toda por causa de conversas de quem nunca viveu o que nós vivemos e passou pelo que passámos. Cada caso é um caso.
Ouçamos a nossa voz mais do que qualquer outra voz e… sigamos caminho!
Dúvidas, questões, partilhas?… Comenta ou envia mensagem/email.
Tem uma óptima semana!
Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia e Terapeuta de Shadow Work * Actualmente continuo a estudar Psicologia Analítica mas também Psicologia da Religião, Filosofia do Yoga e Gnose e Esoterismo Ocidental.