Trabalhar a sombra – o que significa?
18 de Outubro, 2021
O que é isto de trabalhar a sombra (ou “fazer shadow work”)?
Já tenho escrito vários artigos sobre este processo, como este, mas hoje gostava de lançar outra perspectiva.
Quando falamos de sombra e do trabalho com o lado sombra, sinto que há, por parte do público em geral, muitos equívocos sobre o que efectivamente é.
Trabalhar a sombra não é só pensar no mau, no que eu invejo no outro, no que me faz zangar, nos meus defeitos.
Nem é passar a noite a chorar, bater no peito “mea culpa, mea grande culpa” e no dia seguinte “ora bem vamos lá partilhar a minha “noite escura” na net, shadow work feito, I’m the real deal”.
Eu digo isto porque as pessoas poderiam beneficiar verdadeiramente deste trabalho não fosse, por exemplo:
1) Pensarem que sombra é algo mau e maligno e terem medo de “mexer nessas coisas”
2) Acreditarem que vão sofrer horrores com o processo e por essa razão resistem;
3) Ter a falsa ideia que se partilhar algo nas redes sociais sobre a sua experiência com a sombra já está a validar trabalho interior (aquele conceito de “se está na net, é real”)
Trabalhar a sombra é parte de um processo complexo
Trabalhar a sombra (na perspectiva junguiana) é parte de um processo complexo, com inúmeras variáveis que se interligam. É parte do caminho de individuação, do “tornar-se o que se é“, processo este que dura uma vida inteira.
Trabalhar a sombra é deixar cair barreiras pessoais outrora intransponíveis, é revelar potencial, é ressignificar a vida e dar-lhe sentido, com amor.
E uso a expressão “cura da sombra” para enfatizar a importância do amor.
Se nos aproximamos de nós mesmos para nos curar e colocamos o “eu” no centro, isso com muita frequência degenera no objectivo de curar o ego — ficar mais forte, tornar-se melhor e crescer de acordo com os objectivos do ego, que em geral são cópias mecânicas dos objectivos da sociedade.
Mas quando nos aproximamos de nós mesmos para curar essas firmes e intratáveis fraquezas congénitas de obstinação, cegueira, mesquinhez, crueldade, impostura e ostentação, defrontamo-nos com a necessidade de todo um novo modo de ser; nele, o ego precisa servir, ouvir e cooperar com um exército de desagradáveis figuras da sombra e descobrir a capacidade de amar até mesmo o mais insignificante desses traços.
James Hillman
Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia Clínica e Terapeuta de Shadow Work e Desenvolvimento Pessoal * Gosto de ler e estudar sobre Mitologia, Espiritualidade, Psicologia da Religião, Parapsicologia e Psicologia Analítica.
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