Sobre crenças (religiosas) e auto estima
8 de Outubro, 2018
Sei que estou a mexer com um assunto muito sensível mas gostava de partilhar algo sobre a relação entre crenças religiosas e auto estima.
Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se lhe estime”
Carl Rogers
Pertencer a uma congregação religiosa
Uma das fases boas da minha vida foi quando há uns 25 anos atrás fiz parte de uma congregação cristã evangélica onde trabalhava como voluntária.
O meu trabalho consistia em aconselhar, fazer visitas a pessoas hospitalizadas, ir aos lares conversar com os idosos, escrever cartas a pessoas que estavam presas, distribuir roupa, comida, entre tantas outras coisas…
Tudo o que fiz nessa instituição foi de coração e com bom grado porque eu adorava ajudar.
Um dos lados menos bons foi (e ainda é) – e aqui não quero de forma alguma atacar as crenças de ninguém – o facto de existir a doutrina do “é de deus” e “é do diabo”. Ou seja, atribuir as culpas do falhanço à entidade malévola e os louros da conquista à entidade divina.
O que é que pretendo explicar com isto?
Ideais que te controlam
Há certas doutrinas que te tiram o poder e arrasam a tua auto estima.
Não há mal em ter fé. Cada um crê no que quer, não pretendo julgar ou diminuir ninguém mas a verdade é que ao atribuir a entidades externas – a deus, o diabo, o carteiro ou o pacote de leite – a responsabilidade de tudo o que acontece na tua vida, estás a reduzir-te como ser humano com livre arbítrio e poder de mudar as energias à tua volta.
Uma das variáveis na minha tese de mestrado era uma coisa chamada “locus de controlo” e há indícios de que o locus de controlo interno (quanto tu sentes que tens o poder de controlar os eventos da tua vida) está correlacionado com o bem-estar subjectivo – nome técnico mais fancy para felicidade.
Embora uma pessoa religiosa tradicional possa sentir conforto na fé, se ela for sensível e atribuir a razão de tudo na sua vida a deus ou a falta de algo ao diabo, está a ter um locus de controlo externo – ou seja, sente que não importa o que faça, há alguém superior que lhe traça o destino – e pode então surgir uma sensação de desalento.
Pode acontecer, não quer dizer que aconteça e as pessoas são todas diferentes.
Mas eu vi isso acontecer muito, muito, muito – infelizmente.
Vi muita gente boa naquela congregação despedaçada – apesar da sua fé imensa – pensando que não era curada porque não tinha orado o suficiente, que não arranjava trabalho porque não agradava a deus o suficiente.
Nós somos o suficiente. Nós podemos.
Nós, humanos, somos criaturas que tanto pendem para o bom quanto para o mau e somos falhos e imperfeitos e isso tudo, não somos de todo o supra sumo da batata frita.
Mas….
Não temos de viver subjugados ao querer de forças externas porque nós estamos no comando da nossa vida.
O que certas correntes doutrinárias pregam é para te manter controlado. Podes continuar a pertencer à paróquia, à igreja, ao templo e acreditar em quem quiseres mas lembra-te que nenhuma entidade te deve prender, subjugar, tirar a tua criatividade ou a tua liberdade de pensar sem julgamentos e culpas.
Acredita no que quiseres mas pensa.
Pensa, avalia, medita, reza, decide ou não. Mas sabe que és livre e tens o poder.
NOTA: Isto no fim também vale para partidos políticos, associações de estudantes ou empresas… qualquer coisa que te prenda, que te subestime ou que não respeite as tuas ideias é para franzir o sobrolho. Mantém a tua independência e o teu direito a pensar por ti próprio!
Como alguém disse (não me lembro quem): be your own guru.
Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia e Terapeuta de Shadow Work * Actualmente continuo a estudar Psicologia Analítica mas também Psicologia da Religião, Filosofia do Yoga e Gnose e Esoterismo Ocidental.
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