Nem Sempre Zen

Shadow Work ~ Interligando Consciente e Inconsciente

Sobre crenças (religiosas) e auto estima

 

Sei que estou a mexer com um assunto muito sensível mas gostava de partilhar algo sobre a relação entre crenças religiosas e auto estima.

 

Todo ser humano, sem exceção, pelo mero fato do ser, é digno do respeito incondicional dos demais e de si mesmo; merece estimar-se a si mesmo e que se lhe estime

Carl Rogers

 

 

 

Nem Sempre Zen – Sobre a relação entre crenças e auto estima

 

 

Pertencer a uma congregação religiosa

 

Uma das fases boas da minha vida foi quando há uns 25 anos atrás fiz parte de uma congregação cristã evangélica onde trabalhava como voluntária.

O meu trabalho consistia em aconselhar, fazer visitas a pessoas hospitalizadas, ir aos lares conversar com os idosos, escrever cartas a pessoas que estavam presas, distribuir roupa, comida, entre tantas outras coisas…

Tudo o que fiz nessa instituição foi de coração e com bom grado porque eu adorava ajudar.

 

Um dos lados menos bons foi (e ainda é) – e aqui não quero de forma alguma atacar as crenças de ninguém – o facto de existir a doutrina do “é de deus” e “é do diabo”. Ou seja, atribuir as culpas do falhanço à entidade malévola e os louros da conquista à entidade divina.

 

O que é que pretendo explicar com isto?

 

 

 

 

Ideais que te controlam

 

Há certas doutrinas que te tiram o poder e arrasam a tua auto estima.
Não há mal em ter fé. Cada um crê no que quer, não pretendo julgar ou diminuir ninguém mas a verdade é que ao atribuir a entidades externas – a deus, o diabo, o carteiro ou o pacote de leite – a responsabilidade de tudo o que acontece na tua vida, estás a reduzir-te como ser humano com livre arbítrio e poder de mudar as energias à tua volta.

 

Uma das variáveis na minha tese de mestrado era uma coisa chamada “locus de controlo” e há indícios de que o locus de controlo interno (quanto tu sentes que tens o poder de controlar os eventos da tua vida) está correlacionado com o bem-estar subjectivo – nome técnico mais fancy para felicidade.

 

Embora uma pessoa religiosa tradicional possa sentir conforto na fé, se ela for sensível e atribuir a razão de tudo na sua vida a deus ou a falta de algo ao diabo, está a ter um locus de controlo externo – ou seja, sente que não importa o que faça, há alguém superior que lhe traça o destino – e pode então surgir uma sensação de desalento.

Pode acontecer, não quer dizer que aconteça e as pessoas são todas diferentes.

Mas eu vi isso acontecer muito, muito, muito – infelizmente.

Vi muita gente boa naquela congregação despedaçada – apesar da sua fé imensa – pensando que não era curada porque não tinha orado o suficiente, que não arranjava trabalho porque não agradava a deus o suficiente.

 

 

 

Nós somos o suficiente. Nós podemos.

 

 

Nem Sempre Zen – Tu és livre e tens o poder

 

 

Nós, humanos, somos criaturas que tanto pendem para o bom quanto para o mau e somos falhos e imperfeitos e isso tudo, não somos de todo o supra sumo da batata frita.

Mas….

Não temos de viver subjugados ao querer de forças externas porque nós estamos no comando da nossa vida.
O que certas correntes doutrinárias pregam é para te manter controlado. Podes continuar a pertencer à paróquia, à igreja, ao templo e acreditar em quem quiseres mas lembra-te que nenhuma entidade te deve prender, subjugar, tirar a tua criatividade ou a tua liberdade de pensar sem julgamentos e culpas.

 

Acredita no que quiseres mas pensa.

Pensa, avalia, medita, reza, decide ou não. Mas sabe que és livre e tens o poder.

 

NOTA: Isto no fim também vale para partidos políticos, associações de estudantes ou empresas…  qualquer coisa que te prenda, que te subestime ou que não respeite as tuas ideias é para franzir o sobrolho. Mantém a tua independência e o teu direito a pensar por ti próprio!

Como alguém disse (não me lembro quem): be your own guru.

 

 

 

 

Partilha

4 Replies to “Sobre crenças (religiosas) e auto estima”

  • Olá Sofia, muito obrigada pela tua partilha! De facto, toda as experiências são diferentes - e ainda bem! Não há dúvida que sempre aprendemos algo. Apesar de tudo também eu trouxe ensinamentos valiosos para a minha vida. Mas também é muito bom, na minha opinião pessoal, quando as pessoas chegam à conclusão que tu chegaste por ti própria: todos nós temos um pouco de divino (sem barbas! ahah).
  • Querida Patrícia, Este é um tema que me diz muito porque tenho uma educação católica e, apesar de achar que o meu background é importante, hoje considero-me mais uma pessoa de fé do que uma pessoa religiosa. Para mim, a minha educação católica foi positiva, porque me fez aprender valores que ainda hoje são estruturais para mim: amor, bondade, partilha, etc. No entanto, não considero que só os aprendamos pertencendo a uma religião, falo apenas de que no meu caso específico, foi isso que aconteceu. Felizmente, a minha experiência de religião foi aberta o suficiente para nunca achar que o livre arbítrio estivesse em causa. Partindo dessa premissa e com um mais recente investimento no desenvolvimento pessoal, permitiu à minha fé crescer e redescobrir um Deus que, afinal, também existe em mim. Somos todos, pedacinhos de Deus (e não, não acho que ele seja um senhor de barbas longas). Beijinhos, Sofia Mais Feliz
  • Adoro a forma casual com que falas do tema, e penso que sim, é a melhor forma de falar nele de facto! revejo-me nisso tudo, nunca passei pela tua experiência mas passei pela "oposta". Anos em que jurei a pés juntos ser ateu mas trabalhava com voluntariado, por acredito que era o bem maior para a sociedade. O facto de refutar a crença como justificação do acto fez-me olhar com distância para quem se dizia crente. Lá está, não é para julgar os seus actos e crenças, mas a forma como as vivemos. E o que me assusta, devo partilhar, é o facto que algumas vezes ainda vejo pessoas a sair de uma e entrar noutras sem darem conta. A crença XYZ não me faz sentido foi meditar e ser alternativo, e então deixo de dizer que foi Deus/Diabo e passa a ser Karma... parece que só trocámos os nomes, e mantemos o registo. Só há para mim uma pessoa que nos pode absolver qualquer culpa, nós mesmo. No nosso mais profundo sentir. Grato pela partilha!!
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