Nem Sempre Zen

Shadow Work ~ Interligando Consciente e Inconsciente

Terapeuta Salvador: Altruísmo ou Irresponsabilidade?

O terapeuta Salvador é aquele que “na ânsia de se ser prestável, alimenta-se da forma como está disponível para atender às necessidades dos outros, procurando a todo o instante resolver problemas e corresponder a tudo aquilo que são os objetivos de quem está à sua volta.”

 

Neste artigo falo sobre a actuação destes “profissionais”, os perigos subjacentes mas também deixo alertas para quem usufrui destas terapias e conselhos para os próprios terapeutas.

 

 

Foto de Alexander Krivitskiy via @pexels

 

Não é incomum ver pessoas transformarem-se em terapeutas de um dia para o outro, só porque tiveram uma dificuldade na vida e de repente querem ser a luz no mundo e ajudar outros com problemas idênticos.

 

Pese embora a boa fé e boa intenção de quem o faz, esta é uma prática que pode ser irresponsável e que muitas vezes vem apenas colmatar uma necessidade do próprio aspirante a terapeuta.

 

Porque, convenhamos, se as pessoas realmente querem ajudar, há tantas Instituições a precisar de voluntários! Seria muito fácil alguém colocar-se ao serviço e ser realmente útil.

Mas o que se observa é a pessoa a fazer desta nova intenção, uma ocupação profissional.

Ou seja, não há qualquer preparação para lidar com o sofrimento do outro.

E depois, tanto sofre o aspirante a terapeuta, como o seu cliente.

 

Este artigo é, portanto, tanto para os aspirantes a terapeutas mas também para todos aqueles que usufruem das terapias que estas pessoas oferecem – especialmente as designadas holísticas, mais relacionadas com a vida espiritual.

 

 

 

 

Restituir o poder pessoal

 

Nós, psicólogos e psicoterapeutas, trabalhamos no sentido de orientar a pessoa para que seja ela própria a perceber a raiz dos seus problemas. Qualquer mudança tem de partir dela, pois isto permite-lhe tomar decisões e, consequentemente, restitui-lhe o poder pessoal.

Estes processos podem ser rápidos ou demorar meses e até anos, varia muito, dependendo do passado, das expectativas e das experiências de vida de cada um.

 

O problema está, muitas vezes, quando as pessoas querem insistentemente uma resposta rápida que lhes resolva milagrosamente os seus conflitos internos.

 

Do ponto de vista de quem está a sofrer, é compreensível.

Mas fazer uma consulta de Runas, Tarot ou fazer um Mapa Astral não vai dar as respostas que a pessoa necessita.

Falarei disso num próximo artigo, para percebermos os limites das áreas da actuação de cada terapia.

 

É muito importante dar as ferramentas para que sejam as próprias pessoas a desbravar o seu caminho e não depender de outros para isso, ou seja, mais do que dar o peixe e aliviar a fome rapidamente, é essencial ensinar a pescar.

 

Restituir o poder pessoal dá à pessoa liberdade. E é isso que nós queremos!

 

 

Altruísmo ou Irresponsabilidade?

 

Voltando um pouco atrás, quando uma pessoa está em sofrimento, acontece muitas vezes de correr para os braços dos terapeutas pastilha elástica da área quântico-cósmica.

Isto porque, regra geral, eles arranjam logo uma solução e mil conselhos sobre o que a pessoa deve ou não fazer.

(muitas vezes o que fazem é estragar o trabalho dos psicólogos! ahah)

 

O terapeuta salvador, na expectativa de ser útil, de passar a sua experiência para aliviar a dor do outro, pode estar a cair na armadilha de estar apenas a satisfazer a sua própria necessidade de ser útil e valorizado.

 

O lado obscuro deste comportamento é a possibilidade de, inadvertidamente, estar a criar uma co-dependência emocional com o seu cliente e vice versa.

 

Infelizmente, acontece também destes “curiosos” se meterem a rebuscar o passado das pessoas à procura de situações traumáticas que estejam na origem dos problemas.

Com o objectivo de dar as respostas tão desejadas ou até vender algo (seja uma terapia ou produto) começam a a explorar possíveis traumas.

Tudo isto sem conhecer a história de vida, e sem o menor tipo de preparação, arriscando despoletar ou agravar crises psicóticas, com sérias repercussões para a saúde mental das pessoas que os procuram.

 

Por isso, fica aqui o alerta:

Toda a gente gosta de ouvir aquilo que lhe convém, mas nem sempre aquilo que ouvimos é a (nossa) realidade e, não menos importante, nem sempre aquilo que gostamos de ouvir ou que desejamos ardentemente é o melhor para nós.

 

Por isso, escolhe bem em quem depositas a tua confiança e a tua vida.

 

 

Conselhos para o terapeuta Salvador

 

E se por acaso te revês neste papel de terapeuta salvador:

 

  • Pensa bem no que estás a fazer e procura colmatar as tuas falhas em termos de conhecimentos, com estudos.
  • Faz um curso, mas um curso como deve ser, não é uma treta qualquer de coaching de internet!
  • Aprende Psicologia – mas não nesses cursos de Psicologia Holística que se vendem para ai e que de Psicologia não têm nada!
  • Revê os limites da tua actuação e sempre que houver algo que percebes que mexe com questões psicológicas, por favor, não inventes e reencaminha o teu cliente para um profissional que o possa ajudar em segurança.
  • Não tenhas medo de perder o teu cliente se o encaminhares para outro profissional. Se pensas assim, estás a por os teus interesses acima dos do cliente. E se é assim, muda de profissão, por favor.
  • Faz terapia também! Todos nós que trabalhamos com os problemas e a dor de outros seres humanos precisamos de “deitar para fora” a angustia que por vezes sentimos, pelo quanto nos preocupamos com os nossos clientes.

 

Espero que seja útil!

Qualquer questão que tenhas ou orientação que precises, envia mensagem por email ou pelo Telegram que terei todo o gosto em ajudar-te.

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