O apocalipse de João e a minha aventura em Patmos
26 de Setembro, 2021
O apocalipse de João e a minha aventura em Patmos é uma história que ficará para sempre na minha lembrança como uma das melhores experiências que já tive na vida e que me deixou um sentimento avassalador de devoção e fé.
Hoje dia 26 de Setembro, celebra-se S. João, o Evangelista, aqui nesta ilha.
Durante os meus tempos de estudante da Bíblia, li inúmeras vezes o livro do Apocalipse (ou Revelações). Nunca pensei que 25 anos depois teria a possibilidade de visitar o local onde pretensamente o apóstolo João teve as tais revelações apocalípticas.
Situada na ilha de Patmos, a “caverna do apocalipse” é um lugar de peregrinação para historiadores, teólogos e crentes de várias religiões, muitos católicos mas sobretudo ortodoxos.
Estive lá em 2019 e tive a sorte de conseguir visitar a caverna, convertida em local de culto, sem as habituais multidões.
Como é a caverna do Apocalipse?
Ali não se entra de pernas descobertas e há mantos na entrada para quem quiser – a maioria das mulheres usa vestidos compridos e cobre a cabeça com véu. Há silêncio e reverência e até que não já professa qualquer fé, como eu, sente o “peso” da egrégora.
É absolutamente fascinante e simultaneamente claustrofóbico – a caverna é realmente uma caverna, pequena, escura, com saliências rochosas que estreitam ainda mais o já pequeno espaço.
Não nos foi difícil imaginar o cristão João, privado de liberdade, cheio de raiva contra os seus carcereiros, a escrever uns quantos papiros a destilar inconformismo e a desejar a paga devida aqueles que o prenderam ali, naquele fim de mundo, no meio do mar, numa ilha de piratas. Ficámos com a sensação de que o Livro das Revelações, mais do que um desvelar de acontecimentos proféticos, foi, na altura, um clamor de carácter político contra a sua prisão e contra o domínio do Império Romano que perseguia os cristãos.
A caverna situa-se a meio caminho entre Skala e Chora, na ilha grega de Patmos.
Lá em baixo fica Skala, vila portuária, pequena, muito tranquila e simpática onde existe uma capela pequenina na qual, dizem, João, o mesmo do Apocalipse, baptizava e benzia o povo.
A minha aventura em Patmos
Patmos é uma ilha extraordinária. Não tem o charme de outras ilhas gregas mais turísticas mas tem segurança, com os habitantes a deixarem as chaves das viaturas na ignição e irem à vida deles, por exemplo, tem pessoas simpáticas e disponíveis e paisagens maravilhosas para se ver e trazer na memória.
A minha aventura em Patmos foi curta (4 dias) mas intensa e sem duvida que um dos pontos altos foi a vista e ao Mosteiro e ao Museu (de tirar o fôlego!) em Chora e a presença na caverna do Apocalipse.
Deixei velinhas de devoção e donativos em ambas as capelas que mencionei.
Porque o fiz se não tenho fé? Não sei explicar. Acho que é algo que é meu, a reverência e o respeito por todos os que crêem em algo, a aceitação e a abertura à possibilidade de haver realmente algo mais.
Em Patmos percebi a claustrofobia e a raiva de João e senti o “peso” da egrégora, entrei céptica naquela caverna e sai de coração aberto, com uma pontinha de esperança. Quem sabe o que existe além de nós?…
Fotografias por @garranaphotos
Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia e Terapeuta de Shadow Work * Actualmente continuo a estudar Psicologia Analítica mas também Psicologia da Religião, Filosofia do Yoga e Gnose e Esoterismo Ocidental.