E porque não eu?
1 de Março, 2022
Porquê eu?
…. e porque não eu?
Há uns tempos li um artigo em que, perante um diagnóstico de cancro, uma mulher perguntou-se “e porque não eu?“
Achei que era preciso coragem para assumir que no meio de tanta gente como ela, a quem poderia acontecer semelhante desgraça, a senhora tenha pensado “eu não sou mais do que os outros, porque não estaria eu sujeita também a tamanha provação?“
Nos meus tempos de crente, nós tínhamos muito aquele pensamento de guerrilha “deus, eu não aceito a doença, eu quero a cura!”
Mas bem vistas as coisas isto não se trata de querer ou não querer.
Milhões de pessoas por todo o mundo não escolhem estar doentes, ser vitimas de abuso sexual ou crescer na pobreza e passar fome.
Admitir a existência da doença
Por outro lado, recordo-me de uma história, num dos episódios “A história de Deus” em que um senhor que padecia de um cancro agressivo, já em situação de falência de órgãos, colocou a sua fé em deus em prática ao decidir começar os tratamentos de quimioterapia – ainda hoje não se sabe como, mas os tratamentos realmente reverteram a doença e o senhor está curado.
O que estas duas pessoas fizeram foi admitir a doença, admitir que – com ou sem fé – há algo que nos ultrapassa e que nós não somos o centro do mundo.
Com ou sem fé, dar o passo necessário – ou seja, procurar o tratamento – foi essencial para alcançar a cura.
A inevitabilidade da vida e do acaso
Estas questões não se colocam só no seio das igrejas neopentecostais. As terapias new age, as pseudociências, trabalham muito neste sentido, da cocriação, do sucesso. E nós esquecemo-nos da inevitabilidade da vida e do acaso.
O ser humano é maravilhosamente dotado de uma energia única, não tenho qualquer dúvida mas também precisamos ser humildes e admitir que há coisas que não estão unicamente sob o nosso controlo.
Se é desolador pensar assim? Admito que sim.
Não é à toa que cada vez há mais líderes espirituais a convencer as pessoas de que são especiais e escolhidas.
As pessoas precisam disso, desse acolhimento, dessa sensação de pertencimento e de controlo.
Mas isso, na minha opinião, é apenas uma triste ilusão.
NOTA IMPORTANTE: Independentemente do meu ponto de vista pessoal, fé é importante e se isso te ajuda, força! Cuidado apenas com as falsas promessas.
Procura sempre quando e se necessário apoio e aconselhamento psicológico, especialmente em processos de doença e/ou tratamentos prolongados e de grande desgaste emocional e físico.
Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia e Terapeuta de Shadow Work * Actualmente continuo a estudar Psicologia Analítica mas também Psicologia da Religião, Filosofia do Yoga e Gnose e Esoterismo Ocidental.