Discursos motivacionais – sim ou não?
27 de Fevereiro, 2023
Discursos motivacionais são positivos mas… nem sempre. Por isso hoje questiono: sim ou não?
E porque não é só nos meios espirituais e new age que estas coisas acontecem (falo destas 2 áreas porque são essencialmente o foco aqui no Nem Sempre Zen), deixo aqui o comentário da Sónia Tavares sobre uma certa palestra proferida pela apresentadora Cristina Ferreira:
“Creio que se deve ter muito cuidado com os discursos motivacionais no geral, venham eles deste ou daquele.
Acho injusto que se apregoe que, se se trabalhar muito, com muito foco e nunca desistir, conseguimos tudo o queremos, quando a maior parte das pessoas, por mais que se matem a trabalhar uma vida inteira, nunca sairão da cepa torta, dos seus salários mínimos, da real verdade que é a vida do povo.
Sim, o caminho é em frente mas a maior parte das expectativas criadas pelos senhores que as ditam, não correspondem de todo à realidade de cada indivíduo.
Sónia Tavares (cantora)
Mas afinal…
De onde vem a moda dos discursos motivacionais?
É habitual as grandes empresas fazerem sessões de coaching motivacional, com recurso a “pessoas excepcionais” em alguma área, seja no desporto ou nas artes. Com um pouco de sorte dás uns berros “eu consigo!” e fazes uns haka e estás pronto para mudar a tua vida – ou, neste contexto, ir ao próximo nível da produtividade e da eficácia que a tua empresa tanto demanda (os salários esses mantêm-se na mesma como a lesma mas isso são outros quinhentos…).
Discursos motivacionais na espiritualidade new age
Então, transportando estes discursos motivacionais para a espiritualidade new age e os novos movimentos de empoderamento feminino – que foi buscar aos gurus do marketing e à “física quântica” esta moda de que tudo podemos, basta vibrar numa determinada frequência e acreditar que é possível – podem acontecer duas coisas (ou mais mas agora foco-me em duas):
1 – Ou aquilo é super motivacional e realmente impulsiona a tua vida;
2 – Ou lutas, lutas, lutas e sentes-te em areias movediças: quanto mais te mexe mais te afundas.
Aquilo que eu considero ser um problema é que:
1. Ser espiritual já não é uma coisa intima, relacionada com as nossas experiências pessoais significativas que alimentam a nossa alma. A espiritualidade (especialmente nas redes sociais) transformou-se num circo de vaidades, um verdadeiro frenesim exibicionista e mercantil;
2. Desta feita, os apelos à compra de cursos, de terapias ou workshops ligados ao desenvolvimento pessoal e à espiritualidade são cada vez maiores – e serão maiores sempre que houver uma crise económica ou uma pandemia, como aconteceu recentemente;
3. Estes vendedores de curas, alimentam expectativas, por vezes irrealistas, porque as nossas conquistas apesar de individuais, estão sempre de alguma maneira ligadas às condições económicas e sociais do lugar onde vivemos.
A luta também é social e económica
Em 2021 partilhei um artigo escrito pela Maria João Faustino, investigadora em Psicologia, que embora mais focado na questão do “empoderamento feminino”, expressa muito bem a minha “indignação” com este tema:
Distanciado do sentido original de empoderamento, inicialmente radicado num programa de desenvolvimento e mudança social efectiva, o conceito corrente de empoderamento é aparentemente despolitizado.
É, contudo, profundamente político, enraizado num contexto neoliberal que estabelece a equivalência entre escolha individual, consumo e liberdade. A retórica do empoderamento é reflexo do individualismo que centra e aclama a autotransformação e relega a transformação social: afinal, é mais fácil, vendável e aprazível promover retiros no Meco do que exigir políticas públicas que combatam e corrijam a assimetria histórica entre homens e mulheres.
https://www.publico.pt/2021/06/22/p3/cronica/favor-parem-empoderar-queremos-livres-1966871
Ser espiritual, para mim, é abrirmo-nos ao mundo e às suas experiências, é viver todo o espectro de emoções e superar as adversidades, é chorar mas também rir e apreciar a beleza da vida. É fazer desta passagem algo significativo, o que quer dizer que vamos ter de colocar as mãos na massa e agir contra as injustiças.
Porque infelizmente por muito que queiramos, nem todos temos as mesmas oportunidades para mudar a nossa vida conforme os mestres instagrâmicos da Nova Era nos tentam vender.
(…) muito cuidado com a frase “luta pelos teus ideais e sonhos porque vais conseguir”.
Nem todos temos as mesmas habilidades e recursos e, por muito que nos empenhemos com o “tu podes”, lamento, mas não é assim.
(…) Temos de ter claro quais são os nossos pontos fortes e os fracos e, a partir dai, estabelecer objetivos que sejam alcançáveis. Aí, podemos estabelecer um plano de ação.
O problema é colocarmo-nos objetivos que não são realistas. (…)
Os objetivos têm de ser fazíveis, alcançáveis.
Reforço, cuidado com a mensagem “tu vais conseguir”. Nem sempre assim é e não há qualquer problema em não alcançarmos tudo.
Silvia Álava (psicóloga)
Depois de leres a minha opinião…. o que achas sobre o tema? Sim ou não?
Vamos trocar ideias?

Vivo para escrever. Adoro puzzles e mistérios. Não passo sem um cafézinho, música (especialmente heavy metal!) e uma boa dose de ironia. Silêncios são necessários e prazerosos, assim como os livros * Sou Licenciada e Mestre em Psicologia Clínica e Terapeuta de Shadow Work e Desenvolvimento Pessoal * Gosto de ler e estudar sobre Mitologia, Espiritualidade, Psicologia da Religião, Parapsicologia e Psicologia Analítica.