Nem Sempre Zen

Shadow Work for Wild Hearts & Deep Minds

Cura, existe? Reflexões…

Não gosto muito da palavra “cura”. Não a uso – ou tento não usar.

Depois de feridos, nunca mais voltamos ao estado anterior.

A Nise da Silveira dizia “gente curada demais é gente chata”.

Eu acho que gente curada é uma ilusão.

 

Tal como depois de um cancro a pessoa fica a olhar por cima do ombro durante pelo menos 5 anos, apesar de estar bem e recuperada, o corpo foi corrompido.

Ou assim como uma grávida que dá à luz, o seu corpo já não vai ser o mesmo, já passou por uma transformação gigantesca.

Ou ainda quando somos traídos. Podemos ultrapassar a humilhação e o trauma mas não esquecemos o quanto aquilo nos feriu.

 

Na espiritualidade a palavra cura arrepia-me. Soa-me a falsas expectativas, a ilusão.

Sei que esse é o objectivo da maioria das pessoas e eu compreendo isso muito bem.

Mas ainda assim pergunto-me: Cura, existe?

 

Não ficamos sempre com marcas físicas ou emocionais? Com fantasmas? Não nos lembramos disso de tempos a tempos? Não nos emocionamos ou enraivecemos?

Mas esses fantasmas e essas marcas não têm de assustar ou doer para sempre! Não, nada disso. Não temos de carregar esse fardo, nem pensar!

 

Eu acredito que os fantasmas ficam a fazer parte de nós ao longo do resto da nossa vida, como velhos amigos e cabe a cada um de nós, sozinhos ou com ajuda externa transformar esses eventos que nos marcaram numa bonita passagem do nosso livro da vida.

 

Partilha

4 Replies to “Cura, existe? Reflexões…”

  • Compreendo muito bem o teu texto. Eu penso que existe de facto cura, não temos a utilizado de forma correta a palavra. Para mim cura é de facto terminar diferente após sarar todas as feridas! É a sensação de estar erguido novamente após a queda. Há de facto muitas "curas rápidas" muito prometidas e isso sim é alimentar uma ilusão. Obrigado pela partilha!
  • Para mim a cura não é deixar magicamente o passado para trás e viver como se nunca tivesse acontecido determinado acontecimento ou trauma; para mim a cura é exactamente o conseguir olhar as nossas cicatrizes e fantasmas como parte de nós, cada vez com menos peso. Excelente tema! Um beijinho
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